O grande mestre Alfredo Azevedo no seu livro começa por nos dizer o seguinte:”Pelo que tenho conhecimento já existiram 3 capelas no santuário da Peninha. Uma construída antes de 1673 que era uma pequena ermida, outra construída em 1673 mas que ruiu nesse mesmo ano em virtude de um forte abalo de terra, e a actual.
Quem construiu a terceira capela da Peninha foi Pedro da Conceição que segundo nos diz Raul Proença no seu guia de Portugal, era canteiro de seu ofício e homem iluminado, que se deixou prender pelo lugar e, de seus pulsos sobre a rocha colossal, ergueu aquele oratório à virgem da Peninha. Foi ele que lavrou os degraus de pedra dura que lhe dão acesso e calçou a tijolo o eirado.
Os degraus actuais não são os primitivos. Diz também Raul Proença que até à data da construção deste pequeno templo, nos finais do século XVII a imagem estivera na capela de S. Saturnino”.
Pedro da Conceição, que então tinha 28 anos, construiu o templo com algumas esmolas que obteve e ainda com o auxílio do rei D. Pedro II, o que confirma que a construção é dos finais do século XVII, pois o dito monarca iniciou o seu reinado após a morte de D. Afonso VI, ocorrida no Paço de Sintra em 12 de Setembro de 1683 (dez anos depois da derrocada da segunda capela), mantendo o ceptro até 1706, ano em que morreu, tendo sido apenas regente desde 1666, após a deposição de seu irmão.
O fundador da actual capela da Peninha faleceu no dia 18 de Setembro de 1726, o que é atestado pela inscrição tumular que se vê a meio da coxia do templo que fez construir e que reza assim:
Sepultura do ermitão
Pedro da Conceição pede
Um Padre-Nosso e uma
Avé-Maria pelos bem-feitores. Faleceu
Em 18 de Setembro de 1726.
Esta inscrição está reproduzida no livro Inscrições Lapidares de Sintra de Cordeiro de Sousa editado em 1959 pela Câmara municipal.
A Tampa tumular mantém-se muito bem conservada e as letras, mesmo com o correr dos tempos pode dizer-se que não sofreram qualquer depredação.
Por cima do arco triunfal vê-se em círculo esta legenda:
O I. Pº FES ESTA. OBRA.
COM ESMOLAS. DOS. FIEIS.
AN º DE 1690
(o irmão Pedro fez esta obra com esmolas dos fieis. Ano de 1690)
Parece difícil mas ainda há muita gente que não conhece a Peninha. Ainda que não tenham conhecimentos ou pelo menos sensibilidade para admirar os lindos azulejos do século XVIII que revestem a nave, e o belo trabalho de embutidos em pedra que decoram a capela-mor e altar, tenho a certeza de que não deixariam de se extasiar perante o maravilhoso panorama que nos oferece o eirado para onde dá a porta do templo.
A capela-mor é toda forrada de um tapete de mármores de várias cores (branca, negra, rosada e amarela) e o altar tal como o púlpito, é revestido por belos embutidos do mesmo material e com as mesmas cores.
Os azulejos da nave traduzem os 42 passos da vida da Virgem, de belo desenho que o Prof. Virgílio Correia diz poderem ser atribuídos a qualquer de dois pintores Italianos que, ao tempo viviam em Lisboa. São eles Júlio César de Femine e Vicente Baccarelli pois as figuras, diz, ”são absolutamente italianas”.
O Prof. Virgílio Correia no seu livro já citado, chama especial atenção para o painel que se encontra na parte interna do tímpano, em que se divisam quatro anjos de movimentação muito elegante e graciosa, os quais envolvem uma data escrita no próprio azulejo – 1711.
A imagem que se vê no altar-mor já não é a primitiva pois esta era tosca como refere a lenda e a que lá se encontra é já muito bem trabalhada e de rosto muito expressivo.
No altar existem mais cinco imagens: Santa Rita de Cássia, S. Miguel Arcanjo, S. José, Santo Agostinho e ainda outra não identificada segurando um báculo.
Quanto ao palácio que esta à ilharga da capela para o lado do nascente e que a encobre ao visitante pouco há a dizer pois praticamente não tem história o que não é razão para que a universidade de Coimbra a quem toda a propriedade foi doada continue a não ter para com aquele pedaço do seu património os deveres que lhe impõem.
O palácio ocupa o lugar onde existiu um grupo de três casas que se mostram em postais antigos e que também encobriam a capela. Foi mandado construir em 1918 ou 1919 pelo grande Capitalista Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro que por virtude da sua riqueza era conhecido por Monteiro dos Milhões. Homem muito culto, grande coleccionador e camonianista. Nasceu no Rio de Janeiro em 27 de Novembro de 1850 e faleceu no seu palácio de Sintra em 24 de Outubro de 1920.
Por virtude da sua morte o Palácio da Peninha projectado pelo artista sintrense Júlio Fonseca, não foi por ele acabado.
No estado em que ficou por morte do Dr. Carvalho Monteiro foi vendido na década de 20 ao seu advogado Dr. José Maria Ferreira Rangel Sampaio. Este advogado depois da compra procurou o mestre Júlio Fonseca pedindo para lhe fornecer novo projecto a fim de poder acabar a obra e assim sucedeu. Por disposição testamentária do Dr. Rangel todo o conjunto da Peninha passou para a posse da Universidade de Coimbra que em 1991 a vende ao actual Instituto de Conservação da Natureza.
Em 1892 a revista Ilustrada de 15-1-1892 diz que a Peninha tinha sido adquirida pelo Conde de Almedina.
Termino dizendo que Silva Pereira no livro Cintra, Colares e Arredores conta-nos que o fundador da capela da Peninha gastou na construção do templo todo o dinheiro que possuía e acabou os seus dias numa gruta onde viveu trinta e cinco anos.