A Igreja de São Martinho é Sede paroquial, foi arrasada pelo terramoto de 1755, reconstruída e descaracterizada em fins do século XVIII. Resta apenas, da primitiva, a estrutura gótica da capela-mor, visível do exterior, incluindo a lápide trecentista de Margarida Fernandes e três tábuas de pintura portuguesa de meados do século XVI – “S. Martinho e o pobre”, “S. Pedro” e “St.º António” – atribuídos ao Mestre de S. Quintino.
Apenas podemos falar da Igreja Paroquial de São Martinho a partir de 1283, ano em que lhe são ordenados e concedidos estatutos, os quais, no entanto, somente em 1306 tiveram aprovação. Estabeleceu-se, deste modo, todos os seus regulamentos e propriedades (destacando-se, dentre elas, as ermidas de São Romão de Lourel; e de São Mamede de Janas).
Com o correr dos tempos a Matriz de Sintra e sede da Real Colegiada de São Martinho, terá sido alvo de diversas campanhas de restauro e beneficiação, realçando-se a levada a cabo durante o reinado de D. Manuel I.
Muito mais tarde, já no século XVIII, temos notícia da construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Desamparados, acoplada à Matriz e edificada a partir de inícios de 1755, ano em que tudo é arrasado completamente pelo violento sismo de 1 de Novembro.
Concluídos os trabalhos de reconstrução apenas em 1773, a actual arquitectura desta igreja não é mais que o resultado da sua fábrica setecentista.
Igreja de São Martinho – Memórias Paroquiais
As Memórias Paroquiais, feitas em 1758, por ordem de Marquês de Pombal, (Secretário de Estado do Reino do Rei D.José I, de 1750 a 1777), eram inquéritos que nessa data eram feitos aos párocos sobre um extenso conjunto de informações das freguesias.
Verdadeiros censos, e que possibilitam hoje conhecer melhor a forma como se vivia em Portugal nessa época. O exemplo que apresentamos; a Memória Paroquial da Igreja matriz de S.Martinho , que se encontra na Torre do Tombo é um exemplo desses importantes testemunhos
Memórias Paroquiais 1758, Vol.11 nº331 a 2260 -Torre do Tombo
Resposta do pároco de S.Martinho da Vila de Sintra ao inquérito em 1758:
Da Igreja Matris, e Real Collegiada/ de Sam Martinho da Villa de Cintra./
“Estâ esta freguezia situada na praça desta villa, que fica na Ábas da Serra;/ não pude descobrir a criação della, nem o Cartorio, se acha noticia alguma, he das / mais antigas pello que mostra da sua arquetatura; esta tinha Capela mor, / e seis Capellas, quatro dentro do Cozeyro (sic) que Sam, das Almas em que tem a Imagem / de Santo Andre, e da Outra parte Sam Liborio;outra de Senhora do Rozario / e defronte desta á de Nossa Senhora do Livramento(…)”
Consequências do Terramoto de 1755
Consequências provocadas na Igreja de São Martinho relativamente aos danos provocados pelo terramoto de 1755, refere o pároco:
“a Capella Mor tinha vinte e sinco de fundo e dezouto/ de largo; era dabobada,Esta pello teramoto geral de 1755 se arruinou de forma / que apena ficou algumas paredes, mas essas incapazes de poderem servir.” E mais á frente “Ficou esta Villa a mayor parte arruinada, mas ja se acha com m.tos Edefficios/redeficados.Na mesma praça se acha a caza da Mizericordia que exprime/tou a mesma Ruina que freguesia, mas esta se acha ja quasi Coberta.Esta /Santa Caza tem um Hospital em que se curaó os pobres;tem rendas suffi/cientes p.ª se reger.”
Também as Memórias Paroquiais de S.Martinho, permitem saber o número de habitantes existentes na Vila de Sintra na altura: ”Esta freguezia tem trezentos e nove vizinhos, e mil cento e outtenta, e tres pessoas.”.
Estas memórias são realmente verdadeiros retratos da forma como em 1758, se vivia em Portugal, e neste caso em Sintra em particular. As Memórias Paroquiais dão-nos um conjunto de informações que nos obriga a reflectir no percurso feito por este país nos últimos 249 anos.