O Grande Ciclone de 15-02-1941 – Diz assim no Jornal de Sintra:
Segundo a opinião de pessoas mais antigas, já há algumas dezenas de anos que não presenciavam em Portugal um ciclone de tão grandes proporções e de tão desastrosas e fatais consequências, como o que assolou o Pais de Norte a Sul numa onda de destruição no passado dia 15-02-1941.
Comunicações telegráficas e telefónicas completamente destruídas, linhas férreas obstruídas por destroços de Árvores, trincheiras desmoronadas, parques, matas nacionais e jardins que constituíam todo o nosso património de belezas naturais, tudo foi diabolicamente arrasado numa extensão de prejuízos materiais incalculáveis.
Habitações menos seguras foram pelos ares deixando famílias pobres sem abrigo e numa maior miséria. Enfim uma verdadeira catástrofe que se estendeu por todo o pais e deixou milhares de corações receosos e apreensivos pelo dia de amanha.
Veja aqui as informações recolhidas pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera.
Mas deixemos agora o aspecto geral e falemos como sintrenses pelo coração, da nossa encantadora Sintra que sofreu desta vez um dos maiores desastres da sua existência. Desastre esse que afectou grandemente o seu romântico aspecto que lhe destruiu parte da sua maior riqueza panorâmica: a sua bela e riquíssima vegetação.
Pela gratidão que devemos a Sintra e porque ela é a Mãe espiritual que soube dar-nos o verdadeiro espírito e a noção do belo, tal desastre todos lamentámos profundamente com sincero desgosto.
Grande Ciclone de 15-02-1941 no Parque da Pena
Comecemos pelo Parque da Pena, conhecido e admirado numa grande parte do Mundo pela poesia dos seus recantos e das suas sombras, dos seus lagos e dos cisnes, da sua variada vegetação, onde vemos, deitadas por terra, arrancadas ou partidas, centenas e centenas de árvores, em grande parte exóticas, algumas delas preciosas pela sua raridade, árvores que são traços alusivos sobre a história de Sintra ou que poderão ser ainda a lapide onde se encontrava gravado o nome dum rei.
Árvores que levam tanto tempo a criar-se, árvores seculares das mais variadas espécies, de frondosas ramagens, tudo ali se encontra deitado abaixo num aspecto confrangedor.
Temos pois a Penha Verde a famosa quinta que se encontra também num estado lastimoso. O seu frondoso arvoredo foi em grande parte destruído, as suas ruas sombreadas e idílicas completamente obstruídas.
Grande Ciclone de 15-02-1941 em Monserrate
O Parque de Monserrate que tem sido o encanto e a sedução de nacionais e estrangeiros e que já tem sido por vezes o maravilhoso palco onde paradas de artistas se tem exibido em manifestações de Arte, ficou num estado pungente de tal ordem que o nosso espírito não o sabe claramente descrever.
Árvores gigantescas caídas umas sobre as outras, tombadas e inertes aqui e acolá em forma de cruz como a dizer-nos que por ali passou a morte.
Sigamos agora pelo vale de Colares devastado também em parte e vamos à praia das Maçãs. Um verdadeiro dó de alma: habitações em completa ruína, escombros por aqui e por ali, telhados que voaram a distâncias enormes sem se saber a que casa pertencem e estabelecimentos completamente destruídos como é o caso do antigo restaurante Grego que é o mais antigo desta região, que ficou sem telhado e paredes.
A Escola da Aviação, na Granja do Marquês também sofreu estragos materiais avaliados em muitas dezenas de contos de reis. Oxalá que este ciclone não repita nunca mais.
Retirado do periódico de Sintra datado de 15-02-1941