Ermida dos Desamparados

Ermida da Senhora dos Desamparados

A Ermida de Senhora dos Desamparados situava-se encostada à igreja se S. Martinho entre a lapide da Margarida Fernandez e o início da parede da nave do templo adoçada à parede da abside deixando para o lado do portão de acesso ao adro um pequeno espaço correspondente à largura de cerca de um metro e que faz ângulo recto para o lado da lapide até ao primeiro contraforte da parede.
 
Esta ermida sem sino era de planta quadrangular e teria cerca de três metros de lado. Estes elementos foram colhidos na planta de Sintra do capitão de engenharia José António de Abreu levantada em Maio de 1850. Também se pode a mesma verificar a sua posição numa gravura de William Burnett que pintou varias gravuras em Sintra entre os anos de 1830 e 1837.

O seu nascimento data do princípio de 1755 quando um padre da Paroquial Igreja de S. Martinho de nome José Nunes que preocupados com o facto de os presos da cadeia não terem assistência espiritual se lembrou de construir essa ermida para que tal assistência pudesse ser dada aos encarcerados.

A cadeia da vila situava-se onde esta hoje o posto dos correios e, para que os reclusos pudessem ouvir missa foram abertas duas janelas na parede que dá para a rua da Biquinha ficando assim de frente para a porta da ermida. Estes dados foram retirados de um documento de 14 de Agosto de 1755.

Lápide Margarida Fernandez
Lápide Margarida Fernandez

Setenta e nove dias depois a terra tremeu de forma assustadora ruindo quase toda a velha vila, pois esta situada numa falha sísmica e os abalos aqui são muito mais sentidos.

O dito padre construiu o pequeno templo sem autorização dos seus superiores hierárquicos o que demonstra que a construção clandestina já era praticada naqueles anos de 1755.

A pequena ermida foi poupada pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755 e quase nada sofreu apesar de documentos antigos digam que a igreja de S. Martinho ficou totalmente arruinada o que tem lógica porque as paredes da abside resistiram em grande parte embora tivessem ficado em estado de terem que ser apeadas parcialmente.

A parede da abside do lado nascente não ruiu totalmente e a ermida pouco sofreu. Calculo que se tivesse caído não teria sido reconstruída, pois constituía um inestético acresceste.

Existe um documento que se encontra na Biblioteca municipal no Tombo da Santa Casa da Misericórdia de Sintra que é um ofício dirigido ao provedor da Misericórdia pelo regedor da freguesia Diogo Emiliano de Fontes datado de 24 de Abril de 1838 que diz que nesta data a ermida se encontrava em estado de abandono com a porta aberta, servindo de asilo para os mendigos, e não era conveniente que no meio da vila se conserve uma capela em grande estado de profanação.

No livro nº 25 das actas da mesa da Misericórdia pedia-se que se mandasse fechar a porta da capela por se encontrar em abandono.

A mesa resolveu que se mandasse por travessas na porta da mesma enquanto não se fazia uma nova. Foi uma medida de emergência e não por falta de dinheiro, pois nesta época já era tradicional a santa Casa emprestar dinheiro a juros com garantia hipotecária, como se vê em inúmeros documentos existentes no seu arquivo.

No livro nº 26 das actas da Santa Casa a folha 265 encontra-se datada de 19 de Maio de 1867 a decisão de demolir a pequena ermida e passar para a Santa Casa todos os materiais e objectos.

Nos dias de hoje e para comemorar a sua existência está representada por uns belíssimos caixotes do lixo que embelezam a paragem de autocarros e dão-lhe um aroma único nos meses de verão. Valha-nos S. Martinho.
 
Nesta litografia de Burnett  se pode observar a Ermida da Senhora dos Desamparados ao lado da Igreja de S. Martinho.

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