Chalet da Condessa d’Edla

Chalet da Condessa

O Chalet da Condessa. No meio deste Parque tão amado a Condessa morganática concretizou em 1869, com o mestre de obras Gregório, a construção de um Chalet (possivelmente iniciado em 1865), antecipando assim uma moda que conhecerá grande sucesso, alguns anos depois, na costa do Estoril e de Cascais, tendo aqui nesta última, em 1873, sobre o antigo Forte da Conceição, Thomas Henry Wyatt construído o primeiro chalé da costa para os Palmela.
 
Sendo a Condessa a própria arquitecta, desenhou um edifício de planta rectangular no rés do chão, cruciforme no primeiro andar, rodeado de uma varanda, e cuja alvenaria exterior imitava tábuas de madeira encavalitadas umas nas outras, ao estilo das casas rurais norte-americanas.

Era abundante a utilização de cortiça, por possível inspiração no Convento dos Capuchos da Serra. Trabalhada com arte, tornava-se inclinada na decoração das ombreiras dos vãos em arco quebrado, arredondando-se à volta dos óculos, multiplicava-se no friso de pequenos arcos que sublinhavam as coberturas e chegando mesmo a metamorfosear-se numa espécie de hera centenária decorando a fachada, melhor integrando o edifício no seu enquadramento silvestre.

O Interior do Chalet da Condessa

Merece também referência o quarto da Condessa, no primeiro andar, defronte para o do Rei, separando-os o vão de escadaria, onde na parede fronteira da primeira volta estavam pintadas as Armas de Saxe e de Portugal, e no fim da escadaria de madeira, de corrimão com torneados arábicos finamente trabalhados, defronte uma pintura arcádica dum pastor tocando flauta.

Esse quarto da Condessa estava pintado primorosamente de rendas brancas contra um fundo azul anil, possivelmente obra do mestre Domingues Freire, pai de Luciano Freire, afamado pintor de arte que terá realizado muitos trabalhos no tempo da Condessa de Edla, como conta o neto desta, Mário de Azevedo Gomes, na sua Monografia do Parque da Pena (Lisboa, 1960).
 
Adianto que todas as obras interiores de estuque e de pintura estavam a cargo do mestre Sebastião Ribeiro Alves, chefiando uma equipa de decoradores rigorosamente seleccionada.
 
Tendo em consideração a cultura humanística de D. Elise, acompanhada da influência cerrada do imaginário cavaleiresco contido nas óperas dos maiores clássicos (Verdi, Meyerbeer, etc., nas quais actuou), e não ignorando o acentuado pendor Rosacruz de D. Fernando, com muito de druídico e arábico fundidos num panorama escultórico decorando todo o Parque e recriando a ambiência sobre-humana da Epopeia do Santo Graal, não me custa admitir que a ilustre Senhora fosse também ela afecta a tamanhos Mistérios Iniciáticos!…

Aliás, os pratos que pintou e estão expostos no Palácio da Penha, enchem-se de alegorias e símbolos ocultistas inscritos num temário de Patrologia Sebástica exposta num estilo barroco greco-romano, sempre destacando a Mulher, o Mar e a Barca, simbologia matriártica a que bem se ajusta a palavra de António Vieira para a Lusitânia: Mátria, e que é transpiração tanto do venusto Duat quanto de Cordo Mariz.
 
Sempre que fitava este singelo Chalet, o primeiro em Portugal, ele não me parecia um edifício vulgar feito por uma pessoa vulgar, porque não o eram. Letizia Rattazi (in Portugal de Relance, Lisboa, 1881), assim confirma: «Um Chalet de um gosto inimitável. É a Arcádia, uma Arcádia civilizada onde de bom grado se pode viver e morrer. Sente-se que a vida, a saúde e a felicidade residem ali».

Essa última citação não deixa de lembrar-me o que deixou escrito Oliva Guerra num seu poema de 1957, gravado numa lápide encrostada numa penha junto às Feteiras da Condessa, na dobra do caminho levando ao Chalet da Condessa:


 
                                                  “Parque da Pena ramo senhoril.
                                                    No regaço gramático da Serra,
                                                    Em teu condão de lírica beleza
                                                    Ficaste neste mundo de tristeza
                                                    Como um sonho de amor primaveril
                                                    Verde estrofe de um canto panteísta,
                                                    Paraíso que a alma nos conquista
                                                    E que, por dom de Deus, desceu à Terra!…”

 


O Chalet da Condessa d’Edla, o primeiro em Portugal
 
O Chalet da Condessa assenta sobre uma planta rigorosamente simétrica, orientada efectivamente para o Palácio da Penha, sendo as suas janelas e portas em arcos “góticos”, como que aludindo à Arte dos “Argots” ou Mestres-Arquitectos da Idade Média.
 
A base rectangular tem a toda a volta 22 aberturas (10 portas e 12 janelas) e mais 2 óculos (1 em cada fachada lateral) onde, em cortiça. O andar cimeiro do Chalet da Condessa era cruciforme, isto é em cruz. Possuía 20 aberturas (8 portas e 12 janelas),

Caberia à Condessa libertar o Espírito, o seu Espírito, assim se superando. Tamanha tarefa exigia muito recolhimento, e assim o fez, a ponto de quase se eclipsar da ribalta social da época, refugiando-se (saberia ela bem porque…) nos recônditos sibilinos da sua “querida Pena”, decerto sabedora de quantos inigualáveis e secretos Mistérios ela encerra, como se deduz da carta que enviou a D. Manuel II, em 9 de Agosto de 1910: «Este ano V. Majestade abandonou a querida Pena? Bussaco parece-se, arvoredo bom e cedros muito maiores mas… Pena é outra cousa».
 
 
Outra referência será o sítio das “Pedras da Condessa” ou “do Chalet”, próximo deste, onde numa espécie de furna a morganática dedicava-se à torrefacção de folhas de chá e ao experimento espagírico de plantas colhidas no Parque. A lavagem das folhas e ervas recolhidas a faria num pequeno lago, em meia-lua, nas traseiras da sua residência, conforme sugere o seu neto Mário de Azevedo Gomes.

O Chalet da Condessa de Edla é um dos locais mais visitados do Parque da Pena.

Algumas Fotografias do Chalet da Condessa antes do incêndio. Carregar nas imagens para ver em melhor resolução.

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