Chalet Biester em Sintra

Chalet Biester – A Misteriosa e Trágica História

O Chalet Biester fica situado na estrada da Pena na antiga propriedade da Quinta Velha. A sua arquitectura naturalmente sobressai entre os outros monumentos por não se enquadrar no tipo de construção habitualmente visto na vila de Sintra.

A obra foi encomendada ao mestre arquiquecto José Luís Monteiro para uma moradia enquadrada por um jardim e parque.
Não tenho uma certeza de quando foi o início das obras da casa. Em algumas publicações dão como referência o início no ano de 1886, penso que deve andar pela verdade.

Existe um documento que consta da ida para o Chalet do Sr. Francisco Biester, de F. Nogret engenheiro paisagista que tratou de todos os jardins em 1887. Se foi chamado para tratar dos jardins em 1887 é muito provável que as obras da casa tenham começado mais cedo.

Chalet Biester em Construção Inicio do ano de 1890

A casa Biester está no início da Serra de Sintra, de onde se desfruta um dos mais maravilhosos panoramas do mundo, no centro de uma exuberante vegetação, onde quadram bem os seus telhados pontiagudos de ardósia e as suas torres de agulha, próprios dos Países de nevoeiros frequentes.

A Casa Biester é visível “… de qualquer lado de onde seja olhada, já pela situação que lhe deu Monteiro, já pela maneira por que o ilustre jardineiro-paisagista Nogré traçou o parque, a casa Biester, com o seu ar gracioso de redução de Castelo antigo, dá, entretanto, bem a impressão de estabilidade e força que o ambiente e a sua importância requeriam.”

Detalhadamente a construção é de uma beleza encantadora em todas as suas quatro fachadas. Internamente, o ilustre arquiteto teve a colaboração de dois não menos ilustres artistas, Manini, na pintura decorativa e Leandro Braga, na escultura em madeira, que empregaram na soberba vivenda todos os seus belos dotes artísticos.

Os Intervenientes na obra

Os restantes intervenientes foram: Baeta na pintura de arauto na entrada, Paul Baudry nos frescos, Rafael Bordalo Pinheiro -azulejos, José da Quinta – guarnição metálica do fogão da sala de jantar, Domingos António de Sousa Meira – estuques, Champ Vert – vitrais, F. Nogret – jardim, mestre Costa – carpintaria e o seu sobrinho Carlos da Costa Soares – carpintaria.

O Chalet Biester – interiores

No Andar Nobre ou rés do chão da habitação é composto da seguinte maneira: entrada principal ou vestíbulo, um Hall central, um Salão, um Gabinete virado a sul decorado ao gosto da época clássica, Sala de bilhar virada a nascente, Sala de jantar virada para norte e com vista sobre Sintra, uma copa, escadaria principal que está virada para poente.

No primeiro andar são os quartos de cama, os de vestir, quartos de banho – instalações sanitárias, capela, sacristia e outras dependências. No patamar da escadaria principal, pode-se ir para a esquerda, para uma antecâmara e depois para o corredor dos aposentos, ou seguir em frente para a varanda coberta exterior.

A capela foi decorada com pinturas, enquadrando-se no projeto arquitetónico, com um certo gosto de Arte Nova. O tecto é um céu azul estrelado, dando-nos a impressão de limite.

A abside tem um altar, vãos com vitrais coloridos e duplo pé-direito. A sacristia comunica internamente com os aposentos, sendo esta talvez a entrada particular dos proprietários para a capela.

No pavimento térreo o mais modesto, a cozinha, despensa, casa de jantar dos criados, garrafeira, arrecadações, etc.

Na Publicação – A Construção Moderna e as Artes do Metal fomos encontrar duas plantas do chalet e uma descrição sobre o arquitecto que passamos a descrever:

É já conhecido dos nossos antigos leitores o laureado nome do distinto arquiteto Sr. José Luiz Monteiro, pelos trabalhos aqui publicados, tais como a Estação central dos caminhos de ferro, no largo do Camões, o edifício onde se acha instalado o Avenida Palace, a casa dos marqueses do Fayal, em Cascais, e outros de que nos não recordamos de momento.

Publicamos hoje a fachada e plantas do andar nobre (rés do chão) e do primeiro andar da casa Biester, em Cintra, actualmente pertença da Sra. D. Claudina Chamiço, edifício que é uma das joias arquitetónicas de mais valor existentes no país e cuja descrição não caberia nos acanhados limites desta revista.

Como puderam reparar no parágrafo acima é mencionada uma D. Claudina Chamiço, grande benemérita que vamos descever mais a frente. Agora vamos contar a maravilhosa história dos proprietários do Chalet Bister.

Proprietários do Chalet Biester

Para iniciarmos esta longa odisseia, recuamos até ao ano de 1789 ano de nascimento de Frederico Biester (pai). Frederico Biester nasceu no ano de 1789 e faleceu no ano de 1865. Foi casado com Maria de Luz de Ataide, nasceu no dia 20 de novembro de 1799 e faleceu no dia 22 de março de 1865.

Do casamento nasceram 7 filhos. Foram eles:

  • Ernesto Biester (dramaturgo) nasceu a 1828, faleceu em 1880.
  • Maria de Assunção Biester, nasceu em 15 agosto de 1829, desconhece-se a data do falecimento.
  • Amália Biester, nasceu em 5 junho de 1830, data de falecimento desconhecida.
  • Frederico Biester nascido em 1831 data de falecimento desconhecida.
  • Frederico Biester nascido em 1833, falecido em 1899.
  • Rosa Mariana Biester, nascida em 1834, data do falecimento desconhecida e por último
  • Adolfo Biester, nascido em 1836, data do falecimento desconhecida.

Com a documentação existente, pelos dados descritos e comparando com a data do inicio da construção do Chalet (1886) com facilidade concluimos que o chalet Biester foi mandado contruir pelo Frederico Biester o quinto irmão de linhagem.

Frederico Biester (o proprietário) como mencionado acima nasceu no ano de 1833 e faleceu em 1899. Casou com Amélia Freitas Guimarães Chamiço que nasceu em 1843 e faleceu no ano de 1900. O casamento foi no dia 22 de novembro de 1870. Deste casamento nasceu uma única filha que morreu muito jovem vitima de tuberculose óssea.

Muito afectados pela terrível pandemia da tuberculose que dizimava grande parte da população em Portugal, o abastado casal deu início a várias campanhas de luta conta esta terrível doença.

O Chalet Biester depois da morte de Frederico Biester em 1988, herdou para a sua mulher, Amélia de Freitas Chamiço que repentinamente morreu poucos meses depois em 1900. Sem testamento declarado todos os bens do casal foram doados à única herdeira possível.

Era a sua tia por afinidade do lado paterno, a senhora Dona Claudina Ermelinda de Freitas Guimarães Chamiço (a que mencionamos anteriormente), a herdeira de todos os bens.

Claudina Ermelinda Chamiço – a mulher mais rica do reino

Claudina Ermelinda de Freitas Guimarães Chamiço nasceu no dia 12 dezembro de 1821, morreu em 18 junho de 1913. Casou com Francisco de Oliveira Chamiço nascido em 1819, falecido em 1888.

Com a morte do marido Francisco, fundador do Banco Nacional Ultramarino e relativamente à descendência da família Chamiço, há que referir que em 1900, devido à tuberculose, faleceram todos os elementos da família Chamiço, ficando com uma enorme fortuna, ou melhor, com duas enormes fortunas.

Para melhor compreender esta obra de solidariedade consultámos o diário ilustrado que faz menção ao falecimento de Frederico que passamos a descrever:

Publicamos hoje o retrato do Sr. Frederico Biester, cavalheiro muito distinto e muito conhecido e estimado na primeira sociedade de Lisboa, pelo seu nome de família, pelas suas excelentes qualidades de caráter e pela sua inteligência.

O Sr., Frederico Biester é um dedicado colaborador de sua vistosa esposa na obra meritória que esta digna senhora vai empreender, mandando construir os hospitais á beira mar a que já nos temos referido. Associa-se de todo o coração a esse pensamento nobre e generoso que coloca a Sra. D. Amélia Biester entre as nossas mais ilustres e beneméritas.

Homem activo, inteligente, empreendedor e ilustrado o Sr. Frederico Biester impõem-se á simpatia e à estima de todas as pessoas que o conhecem. Inserindo o seu retrato prestamos a S. Excelência a homenagem a que tem legitimo e incontestável direito.

A obra social do Casal Biester

Frederico Biester e D. Amélia Biester, de novo sós, mais donos da sua ideia, sozinhos no seu desgosto da morte de uma filha com tuberculose óssea – nas longas noites de inverno já doentes, criam em pensamento o Sanatório.

Amigos e clientes de Dr. Sousa Martins médico que tratou da sua filha, tomam posse da ideia de construir inteiramente à sua custa, um Sanatório para “crianças fracas e enfezadas” e é Sousa Martins quem irá dar realidade a uma parcela do seu imenso sonho.

“Com a morte do casal, D. Claudina de Freitas Chamiço, herdeira de seus sobrinhos, recebe, quente e viva nas suas fracas mãos, a Ideia nobre”

O Sanatório de Sant´Ana

Esta grande obra destes grandes beneméritos foi o Sanatório de Sant’Ana. Situado na Parede, fronteiro ao mar, actualmente Hospital de Sant’Ana foi construído entre 1899 e 1904 como sanatório para doentes tuberculosos. Pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por doação de Claudina Ermelinada Chamiço.

Foi o seu grande amigo o médico Dr. Sousa Martins que se encarregou da escolha do terreno mais apropriado, na margem norte do Tejo.

O Dr. Sousa Martins

O Dr. Sousa Martins, o santo milagreiro como é conhecido ainda hoje, atacado pela tuberculose e querendo evitar o seu próprio sofrimento, suicidou-se em 1897 com uma injeção de morfina.

Ganhou enorme prestígio na luta contra a tuberculose, que então atingia proporções epidémicas em Lisboa. Tem uma estátua no Campo Mártires da Pátria onde todos os anos, milhares de devotos visitam e rezam sobre o seu túmulo.

No dia 1 de dezembro de 1911 Estevam dos Santos, trabalhador nesta casa suicidou-se perto da Quinta da Penha Longa, dando início a uma sucessiva e estranha  vaga de Suicídios na Vila de Sintra.

O Chalet Biester foi também palco de uma parte do filme The Ninth Gate (A Nona Porta) de Roman Polanski, em que o protagonista principal foi o actor Johnny Depp.

Nada mais encontrei sobre este belo Chalet e os seus criadores, mas penso que consegui desvendar a misteriosa e trágica história do Chalet Biester em Sintra.

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