Barragem do Rio da Mula

Barragem do Rio da Mula

A Barragem do Rio da Mula está localizada na Serra de Sintra no concelho de Cascais a Este da então denominada Costa Queimada, a Oeste e a Sul da Tapada do Saldanha e a Norte da Quinta do Pizão. A Albufeira da Barragem divide os concelhos de Sintra e Cascais.

A Barragem do Rio da Mula é banhada pela ribeira da Mula que lhe dá nome e tem a sua nascente junto do Casal dos Porqueiros e Matos Piedade junto da Tapada do Saldanha. Tem um cumprimento total de 27 km e em Cascais com o nome de Ribeira das Vinhas, desagua na Praia da Ribeira.

A Barragem e a ribeira para montante estão rodeadas por grandes elevações geográficas como o Monte Murado também conhecido pelo Monte do Silêncio, os Calhaus do Monge, o Alto da Costa Queimada, a Pedra Amarela, o Penedo do Carrasco e o Alto do Saldanha a Este.

A Barragem do Rio da Mula como a conhecemos atualmente, começou a ser construida segundo projecto de 1963 e foi concluída em 1969. O Projectista foi o Engenheiro Ressano Garcia com a colaboração do Gabinete de Estudos Hidráulicos Apagel. A obra esteve a cargo da Tomás de Oliveira – Empreiteiros.

A água captada na Barragem do Rio da Mula abastece a cidade de Cascais e é tratada na Estação de Tratamento de água localizada junto do paredão. A estação do Rio da Mula tem capacidade para tratar 150 m³/hora, sendo o processo de tratamento constituído por pré-oxidação, coagulação, floculação, decantação, filtração rápida e desinfeção final.

A remodelação realizada ha cerca de 4 anos teve um custo de 1.083.175 euros.

A Pequena Barragem de 1932

No ano de 1932 havia a necessidade de aproveitamento das águas fluviais. Existia no verão uma grande falta de água em Cascais devido ao aumento significativo da sua população. Elaborou-se um projecto, designou-se um grupo de trabalho para realizar a urgente obra. Apesar da falta de água a obra não teve o consenso comum, como demonstra o Jornal o Estoril de 16 de outubro de 1932 que diz assim:

A barragem fez-se para armazenamento das águas fluviais de modo a se garantir o abastecimento nos meses de julho, agosto e setembro. Em toda a parte se adota esse sistema e o público nada tem de que se recear, porque, pela própria natureza os terrenos, as barragens são feitas nos vales, e não há vale algum que não tenha a sua camada detrítica sob a qual circulam as águas.

Toda a colheita desse líquido vai fazer-se agora precisamente pela barragem, porque há muitos anos, como se disse, era feita no Rio da Mula. A limpeza da Represa só se fez em julho e agosto, porque a primeira vez que se esvaziou, serviu para verificar as condições da sua vedação. Verificadas as zonas para se fazerem as reparações, despejou-se e encheu-se novamente.

Esta pequena Barragem ou dique era menor em dimensão e em retenção de água como demonstra as seguintes fotografias.

Até 1932 as águas de abastecimento desta zona eram as seguintes: as da região granítica de Vale de Cava-los fornecida por urna rede de 60 captações superficiais e de pequeno caudal; as da região calcária do Pisão e as da região granítica do rio da Mula, que constituem o curso superior da Ribeira de Cascais onde as águas eram simplesmente derivadas do riacho que corre permanentemente de verão e de inverno, embora com pouco caudal de estiagem.

Devido à circunstância da região de Vale Cavalos ser desabitada as águas provenientes desta região eram de qualidade bacteriológica aceitável, muito embora a sua captação fosse imperfeita, mas a sua mistura com a água de superfície do rio da Mula e a do poço do Pisão resultava imprópria para o consumo e a ela deveu-se algumas epidemias de febre tifoide na região.

Além da má qualidade, a água distribuída era em quantidade insuficiente. Resolveu a Câmara convidar o distinto engenheiro Sr. Alves Costa para estudar o problema do abastecimento do Concelho, incumbência de que se desempenhou projectando a construção de unia barragem um pouco a jusante da antiga captação do Rio da Mula.

A capacidade do armazenamento obtido, com o fim de aumentar o caudal disponível na estiagem, foi de 30 000 metros cúbicos. O armazenamento constitui só por si um processo de melhorar as qualidades da água sob o ponto de vista bacteriológico, mas não foi julgado suficiente.

A água da superfície em regiões graníticas é muitas vezes de cor amarelada devida à presença de substância orgânica no estado coloidal que vem do contacto demorado com a vegetação local e que só é possível fazer desaparecer por meio da filtração rápida com o emprego de coagulantes.

Como se reconheceu indispensável a esterilização da água antes de distribuída, a Câmara Municipal de Cascais abriu concurso público em julho de 1932 para o fornecimento de urna instalação de tratamento de água por filtração rápida sob pressão e esterilização química que foi adjudicada à firma – The Paterson Engineering.

Grandes cheias de 24 novembro de 1983

A barragem do Engenheiro Ressano Garcia finalizada em 1969, teve, no entanto, num dia com precipitação elevadíssima, uma quebra na sua estrutura. Quebra essa que inundou repentinamente a ribeira das vinhas que por sua vez alagou completamente a cidade de Cascais. Aconteceu nas grandes cheias a 18 de novembro de 1983.

Noticia do Jornal da Costa do Sol a 24 de novembro de 1983:

Sobre a madrugada uivou a sirene dos bombeiros, mal entendida, tão forte era o barulho da chuva a cair nos telhados. Nunca ninguém supôs, porém, a catástrofe que se estava a desenrolar.

A água, em catadupas, convergiu para o centro da vila e tudo inundou, inclusivamente o quartel da corporação dos bombeiros, que logo se viu privada de contar com algumas das suas viaturas, radio telefones e outro material necessário à prestação dos indispensáveis socorros.

A chuva continuava teimosamente a cair, aquela chuva que tão desejada fora e que trazia agora consigo a tristeza, a desolação a até a morte. Na rua, o espetáculo era medonho e desolador, presuntivo de graves e grandes desgraças.

As ruas da baixa da vila de Cascais estavam literalmente inundadas, tendo a água invadido todos os estabelecimentos e casas, em certos casos até ao teto, destruindo tudo quanto encontrou na sua marcha para o mar.

Junto à Praia da Ribeira, encontrando a barreira da muralha que se opunha ao seu escoamento para a praia, começou a inundar os edifícios circunvizinhos, inclusive o da própria Câmara, até que o muro, não suportando o peso e impacto da água, que cada vez mais ia chegando, cedeu e a enxurrada tudo levou: barcos, pedras, terra, areia, abrindo sulcos na estrada Marginal.

Os postes elétricos que ali se encontravam tombaram também e a vila mergulhou na escuridão, o que tornou o cenário ainda mais arrepiante. Era a barragem do rio da Mula que ruíra e a água, vindo de roldão, tudo arrastava na sua marcha impiedosa e terrível. Em Manique, também a velha ponte ruíra.

Do Alto do Moinho Velho podíamos observar o imenso lençol de água que se estendia por toda a Ribeira das Vinhas, cobrindo o Mercado e fazia da Quinta das Loureiras, a norte da estação de caminho de ferro, uma enorme e horrível piscina.

Junto aos correios, um espetáculo terrível e medonho: a água atravessava os estabelecimentos e casas e saía em catadupas por portas e janelas, tudo arrastando na sua fúria destruidora.

A divisão Concelhia de Sintra e Cascais.

Para finalizar transcrevo ofício n.º 394 datado de 1975 da Câmara Municipal de Sintra dirigida à Câmara municipal de Cascais sobre a linha divisória dos concelhos de Sintra e Cascais.

Ao Excelentíssimo presidente da comissão executiva da Câmara Municipal de Cascais.

Cumpre-me levar ao conhecimento de V. Exa. que a Câmara Municipal apreciou a proposta apresentada por V.Exa. em ofício nº 394 de 24 de junho ultimo, deliberou por unanimidade autorizar esta comissão executiva a fixar a linha divisória dos concelhos de Cascais e Sintra, na Serra da Malveira, em linha recta da Peninha (…) na pedra amarela, e a ceder a essa Câmara a título precário, na vertente sul da Serra a água que brota à superfície, sem que possa abrir minas, salvaguardando-se os interesses a direitos dos proprietários dali, deixando-lhes a água necessária de que já se utilizavam e de cuja posse estão.

Saúde e fraternidade
Paços do município de Sintra, 16 de julho de 1915
o presidente da comissão executiva
Francisco Martins.

Ao Arquivo Histórico de Cascais o meu agradecimento pessoal.

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