Grandes Naufrágios no Cabo da Roca

Grandes Naufrágios no Cabo da Roca

Grandes Naufrágios no Cabo da Roca. Se a epopeia dos descobrimentos foi o momento alto da história pátria, nem só de glória foram esses dias fabulosos de Encontro e Descoberta. O mar, companheiro e generoso muitas vezes foi castigador e cruel, por vezes já quando longas viagens chegavam ao fim e à vista de costa amiga.

Vem isto a propósito de recordar os vários naufrágios na costa de Sintra, muitos perto do Cabo da Roca onde no fundo dum mar alteroso jazem esperanças, fazendas e sonhos desfeitos, batidos por ondas justiceiras.

Com efeito, para além de constituir imponente acidente geológico, o Cabo da Roca era relevante na náutica antiga como ponto de referência, juntamente com as Berlengas e o Cabo Espichel. Entre a ponta da Lamparoeira e o cabo da Roca, a isobatimétrica dos 50 metros vai-se aproximando sensivelmente da costa, situando-se a cerca de 4.5 milhas da primeira e a pouco mais de 1.5 milhas da segunda.

A isobatimétrica dos 10 metros corre próximo da linha de costa e na generalidade por dentro dela os fundos são sujos. Os perigos à navegação são muitos. Entre os mais relevantes encontram-se as Mesas, que são pedras emersas mas baixas, das quais a menor, a pedra das Gaivotas, parece caiada na sua parte superior.

Estão situadas a cerca de 200 metros a Sul-sudoeste do focinho do cabo da Roca, constituindo perigo a quem fizer rota muito próximo de terra nesta área, em especial à noite.

Maior perigo constitui a pedra da Arca ou Broeiro, situada a cerca de 900 metros a Noroeste do cabo, submersa mas à flor da água e sobre a qual, com bom tempo, o mar não rebenta. Junto a esta pedra encontra-se um navio afundado e passa sensivelmente por ela o enfiamento do extremo norte do areal do Guincho com a pedra das Gaivotas.

Entre o Broeiro e as Mesas há igualmente várias pedras, tanto mais perigosas porque são frequentes os nevoeiros, junto à costa, nos meses de Verão.

Grandes Naufrágios no Cabo da Roca – resumo


Em 1611, o Nuestra Señora de la Encarnación, nau espanhola de 90 toneladas, vinda de Porto Rico, e comandada por Pedro Rebolo.

Em 2 de novembro de 1636, temos nota do afundamento do Santa Catarina de Ribamar, da Carreira das Índias, com 470 passageiros a bordo e em 1639 três navios turcos.

Já a 3 de fevereiro de 1731, entre a Roca e Cascais perdeu-se a tartana francesa Notre Dame de Misericorde, que saíra a 1 de janeiro de Marselha para Lisboa com um carregamento de mercadorias. Com a força das ondas foi lançada sobre as rochas por uma tempestade.

Outro relato, de 26 de novembro de 1798 dá conta do afundamento do HMS Medusa, navio inglês de 50 canhões, sob o comando do capitão Alexandre Becker.

A 26 de agosto de 1871, o vapor inglês Lunefeld, que viajava de Cardiff para Trieste, com rails de caminho de ferro terminou abruptamente o seu percurso.

A 3 de maio de 1872, a fragata francesa Saint Germain, naufragou na Praia da Ursa e em 20 de Janeiro de 1875 também no Cabo da Roca o vapor português Insulano, construído em 1868, e propriedade da Empresa Insulana de Navegação, com 877 toneladas, foi abalroado pelo vapor inglês City of Meca.

Em 28 de agosto de 1883, registo para o encalhe devido a nevoeiro do vapor inglês Rydal e em 15 de Agosto de 1907, o vapor inglês Anglia com 2055 toneladas de carvão lá ficou.


Na Baixa do Broeiro em 8 de Janeiro de 1886, o navio inglês Carnishman e no mesmo local, em 8 de Junho de 1890, o Fernando, vapor de pesca português.

Em 1907 novo afundamento, entre a Roca e o Raso, o Lutetia, da Compagnie de Navigation Sud Atlantique afundou o Dimitrios, vapor grego de 2506 toneladas e em 1922, a 23 de Outubro o vapor espanhol Begoña, de 3450 toneladas colidiu com o vapor inglês Avontown.

A 24 de Abril de 1963, menção para a colisão entre o navio motor Loiusa Gorthom e o navio espanhol Virgen de la Esperanza.
Mais recentemente em 1981, a 15 de Agosto o afundamento do navio turco Elazig, de 4836 toneladas, e mais mediático, e ainda na memória de alguns, o Bolama, muito tempo e ainda hoje envolto em mistério.


De forma oficial, existem vários relatos de achados nesta zona. O primeiro comunicado às autoridades consistiu na descoberta e consequente levantamento de uma peça de artilharia bronze junto ao cabo da Roca, recuperada em Agosto de 1966 a baixa profundidade. Tratava-se de um canhão de bronze de 2,87 metros de comprido, com 13 cm de calibre e peso estimado de 1500 kg.

Tinha duas cintas, dois munhões, duas asas de golfinho e cascavel chato com asa, tendo sido identificado como sendo uma meia colubrina do século XVII. Depois, os achados sucederam-se – uma peça em bronze recuperada pela Marinha em 1967, um conjunto de outras 13 descoberto entre 4 e 8 metros de profundidade, um sino também em bronze descoberto por apanhadores de algas, um par de canhões em ferro e por aí fora.

Há uns anos, o CNANS enviou para a zona uma equipa constituída por Luís Filipe Castro, Jean-Yves Blot e Miguel Aleluia, na tentativa de localizar e caracterizar o conjunto das 13 peças de bronze, muito provavelmente pertencentes à Santa Catarina de Ribamar. Debalde: a zona estava completamente assoreada e nada foi visto.

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