Convento dos Capuchos vista geral do Claustro

Convento dos Capuchos

Implantado na serra de Sintra entre cerrados arvoredos e elementos rochosos, o Convento de Santa Cruz dos Capuchos, Convento da Cortiça ou Convento dos Capuchos, como é mais conhecido, havia água de nascentes naturais além do fundamental silêncio rústico.

As árvores autóctones davam frutos secos para o inverno como a bolota e da castanha e de arbustos que davam frutos agradáveis no verão como é o caso das amoras silvestres e do medronheiro. Havia terra fértil para cultivar hortaliças e legumes e na encostas inúmeras plantas medicinais.

Antes do convento havia lá um ermitério onde ascetas se sustentavam apenas com o que a natureza oferecia-lhes. Os monges ermitãos homens que se tinham retirado do Mundo para se dedicarem exclusivamente a pensar em Deus, para viverem em contacto permanente com a natureza, considerada obra maravilhosa do criador foram os percursores de pequenas comunidades de religiosos ascetas que foram aumentando em número e extensão.

Como primavam pela humildade e pobreza desprendidos de tudo, não pretendiam a posse de nada e inspiravam grande simpatia e admiração. O povo designava-os carinhosamente por Capuchinos. O nome veio do traje que usavam que se chamava Capucha. Era um hábito muito simples de estremenha escura, composto por uma túnica talar com capuz, cingindo por uma corda de lã branca.

D. Álvaro de Castro

D. João de Castro a quem por honra e como pagamento de serviços prestados foi dada a Quinta da Penha Verde, lembrando-se de proteger a sua alma acreditou que seria bom doar parte da sua propriedade para a fundação de um convento.

Assim em 1560, foi fundado por D. Álvaro de Castro quando este tinha 35 anos, que assim cumpriu o voto de seu pai, D. João de Castro, Vice-Rei da Índia.

Os primeiros franciscanos capuchos que aqui habitaram, em número de oito, vieram do convento da Arrábida, trazendo consigo toda uma espiritualidade que privilegiava a pobreza e a ascese, e que se traduziu na arquitectura totalmente depurada que, desde então, acolheu os diversos religiosos que viveram nestas celas de dimensões reduzidas escavadas na rocha.

O convento dos Capuchos assim como todos os conventos Franciscanos deveriam ser uma espécie de ermitérios humildes e pobres.

As suas igrejas deveriam ter pequenas dimensões e estreitas para só se olhar em frente para o Altar e evitas distracções, seriam organizados em comunidades pequenas de oito ou doze elementos consoante se tratasse respectivamente da proximidade de uma pequena ou grande povoação.

Seriam construídos fora das povoações, mas não muito distantes de modo a realizarem apostolado e os sermões deveriam ser para todas as pessoas entenderem sem palavras caras ou com expressões de retórica.

Acompanhando o declive do terreno, a planta do complexo conventual é, naturalmente, irregular e antecedida por um terreiro com uma fonte, que marca a passagem de um mundo de luz natural para um outro, as celas (e demais dependências, algumas das quais forradas a cortiça, e articuladas entre si através de escadas e corredores talhados na rocha) e a igreja, onde impera a penumbra.

A vida contemplativa abraçada pelos frades capuchos assim o impunha. A igreja, integrada no conjunto, é de uma só nave, destacando-se o retábulo-mor de mármore e o altar de embutidos, por constituírem os elementos de maior vanguarda (devem ter sido executados entre o final de Seiscentos e o início da centúria seguinte), fugindo ao rigorismo e pobreza observada nos restantes espaços.

É também aqui que se encontra a lápide evocativa da fundação do convento, que perpetua a memória de D. João de Castro.

“D. Álvaro de Castro, do conselho de estado e vedor da fazenda D´el Rei D. Sebastião, fundou este convento por mandado do Vice Rei da India D. João de Castro, seu pai, no ano de 1560. O padroado é dos sucessores de sua casa. O altar desta igreja é privilegiado todos os dias a qualquer sacerdote que nele celebrar”.

“Todas as pessoas que contritas e confessadas, ou com o propósito de se confessar, visitarem esta igreja, na festa da invenção da Santa Cruz, desde as primeiras vésperas até ao Sol-posto do dia, e rogarem a Deus pela paz, entre os príncipes cristãos, extirpação das heresias, exaltação da Santa madre Igreja, e pela alma de D. João de Castro, ganham indulgência plenária e remissão de seus pecados”.

O simbolismo da Cruz

A imagem e o simbolismo da cruz, que recorda a paixão de Cristo e a invocação do próprio convento, são uma presença constante, com início na grande cruz de pedra à entrada e se propaga por todo o interior, assumindo um significado especial na capela dedicada ao Senhor dos Passos.

Esta é revestida por azulejos setecentistas, de cerca de 1740, representando a Flagelação, a Coroação de Espinhos, símbolos da Paixão na abóbada e, sobre a porta, Cristo Crucificado, a completar o programa. Segundo Victor Serrão a capela do Senhor Crucificado insere-se na mesma iconografia que reflecte a espiritualidade franciscana, apresentando pinturas murais atribuídas a André Reinoso.

A par da iconografia da cruz todo o complexo foi concebido como um caminho a percorrer para atingir a salvação, um percurso ascendente que culmina na sala do retiro, logo após a sala da penitência. Uma lógica arquitectónica que testemunha as principais preocupações dos seus habitantes – a penitência e a vida contemplativa e espiritual.

Assim, à primeira campanha fundacional, seguiu-se apenas uma outra já setecentista, que veio trazer alguma modernidade ao complexo conventual, mas, sobretudo, acentuar o simbolismo da cruz.

O convento dos Capuchos nunca deixou de impressionar todos quantos aí se deslocaram ao longo dos séculos, desde viajantes a monarcas, que expressaram a sua admiração pela vida austera que os religiosos levavam.

Quando Filipe I de Portugal estadeou em Sintra no Outono de 1581, o maior monarca da Cristandade ficou sobretudo extasiado pela modéstia e sobriedade do pequenino Convento.

O Rei terá dito comovido que possuía nos seus reinos as duas joias mais preciosas: O mosteiro do Escurial pela sua pujante riqueza e o Convento dos Capuchos pela sua singeleza tão propicia à meditação, com a vegetação rasgando fragas e a água fresca jorrando das fontes.

Uma das personagens mais controversas do Convento dos Capuchos é o Frei Honório que viveu e morreu no Convento. Controversa porque não há documentação nem provas documentais a seu respeito e nem sequer o seu nome de baptismo se sabe.

Porém, a tradição oral e a memória colectiva dos habitantes da região dizem-nos que em vários locais da Serra de Sintra eram habitados em tempos muito remotos por Eremitas. Eram homens que habitavam sozinhos em locais ermos dedicando-se apenas a uma vida ascética e mística.

Integração na comunidade dos religiosos

Há dúvidas sobre a sua integração na comunidade dos religiosos Capuchos na Serra de Sintra porque um homem que há tantos anos vivia isolado, não deve ter aceitado viver em comunidade.

As pessoas que o conheceram transmitiram-nos de geração em geração a ideia que era um Santo. Frei Honório gostava muito daquela pequena gruta onde se diz que viveu 30 anos. Há memória que morreu no ano de 1565 pouco tempo antes da abertura do Convento.

Beneficiado por vários reis, o convento foi habitado até 1834, quando a extinção das Ordens Religiosas obrigou ao seu encerramento. Adquirido pelo Estado já no século XX, encontrou-se encerrado entre 1998 e 2000 devido ao avançado estado de ruína, abrindo de novo as suas portas ao público em 2001.

Cova de Frei Honorio
Cova de Frei Honório
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