A três quilómetros a leste do Cabo da Roca no vértice de um cerro elevado de 426 metros e situado no meio de um sistema geográfico cujos relevos desenham o complicado labirinto de curvas de nível com que nas cartas representa a serra de Sintra avista-se perto da Peninha o penhasco denominado Adrenunes
Nesse sítio no cimo um marco geodésico vê-se de longe, hoje praticamente destruído confunde-se com o resto do granito que o suporta
Aos séculos incontáveis descarnaram a rocha deste píncaro de maneira fantástica. Voltada para poente uma estreita goela abre-se junto ao solo apertando-se ainda mais para dentro onde ao fundo, calhaus em monte fecham a passagem.
Esse buraco tem cinco metros de altura e é encimado por longos pedregulhos maciços que sobre ele desabaram um dia tombando horizontalmente
Do lado oposto o grande colossal rochedo e constituída pela aglomeração desordenada de pedras com as formas e as dimensões mais variadas. Ao lado estão estendidos outros calhaus fragmentados que facilmente se desmoronaram quando a erosão tirou-lhes o equilíbrio.
Uma enorme lasca fendido desprendeu-se do aglomerado e permanece encostado de lado. De ambos os lados das disformes pedras pedaços de rochedo comidos formam outras cavidades irregulares e disformes.
Nesse amontoado de pedra não há nenhum vestígio de arquitectura humana assim como em outros lugares e ao contrário que muita gente erradamente pensa é tudo obra das enormes forças destruidoras da natureza.
Adrenunes – a Maravilha Dolménica
No século passado Adrenunes foi considerado maravilha dolménica como escreve o Professor Pereira da Costa “Na serra de Sintra sobre um píncaro inteiramente desconhecido dos frequentadores de tão pitoresca a aprazível montanha existe um daqueles monumentos pré-históricos como no seu estado primitivo.
O governo mandou tirar fotografias que foi remetida juntamente com outros objectos de arte e monumentos nacionais para a grande exposição de Paris” que era o congresso de Antropologia e Arqueologia pré-históricas de 1867.
No congresso de Montpellier de 1879 Possidónio da Silva fez na sessão de 30 de Agosto uma comunicação dizendo que um dólmen que se encontra na Serra de Sintra do lado de Colares defronte ao farol da Roca é o mais bem conservado de Portugal.
Já antes Vilhena Barbosa publicou no Arquivo Pitoresco de 1868 um longo artigo do monumento de Adrenunes. Filipe Simões na sua introdução à arqueologia da península Ibérica concluiu que não era um Dólmen, mas um túmulo ou galeria.
Anta ou Dólmen
Em 1880 C. Ribeiro editava pela Academia a notícia de algumas estações e monumentos Pré-Históricos em Sintra que dizia que na cumeada da Serra de Sintra havia um dólmen no sítio de Adrenunes do qual já tinha dado notícia que não havia ainda sido explorado.
Fica a dúvida sobre qual foi o primeiro arqueólogo que realizou o estudo deste verdadeiro ou falso dólmen, o que se pode apenas concluir é que este sitio é conhecido desde 1867 e denunciado logo pelo interesse arqueológico.
Já disse em cima que este monumento é conhecido por anta ou dólmen, mas a confusão deste penhasco com qualquer obra humana é errado.
O que caracteriza fundamentalmente a anta ou o dólmen é um recinto quase subterrâneo de maior ou menor área limitado por suportes toscos de pedra mais ou menos aprumados e contíguos quase sempre largos e altos a ainda por outras pedras ou lajes que horizontalmente pousadas sobre a parte superior dos suportes constituem rude cúpula ou capeamento do mesmo recinto.
Têm planta circular ou poligonal e frequentemente os construtores deixavam-lhe uma entrada que era precedida de uma galeria ou corredor por sua vez também coberta e guarnecida de pedras laterais.
Em bastantes destas ruínas existe ainda o montículo da terra que cobria primitivamente toda a construção do túmulo que a população designou com o termo de mamoa ou mamunha em consequência da sua forma mamilar.
Cripta ou Câmara Mortuária
Em Adrenunes não há recinto algum que constitua cripta ou câmara mortuária e as altas paredes da estreita entrada são o resultado casual das fracturas e refendimentos da própria rocha nativa da montanha e não de qualquer intenção construtiva do Homem Pré-Histórico.
Toda essa enorme fraga provém de gradual desnudamento que os agentes atmosféricos exercem há milénios.
A galeria orientada para Oeste não tem seguimento para o interior e está obstruída pelas derrocadas das pedras, circunstância que não se observa no mais destroçado dólmen onde a galeria se antepõe à câmara.
Servindo de tecto da câmara nos poucos casos em que ainda se conserva que pode existir são lajes de grandes dimensões, mas sempre muito mais largas do que espessas.
Em Adrenunes o que se vê à frente é uma grande pedra alongada que evidentemente tombou sobre as paredes. Nenhum vestígio de mamoa ou túmulo se vê ali, mas simplesmente a acumulação das fragas.
Em nenhuma das pedras que constituem a pseudo entrada se vê intencionalidade quer na forma, quer na disposição, quer na espessura das mesmas.